Após a colheita do produto principal do algodoeiro (Gossypium sp.), a fibra junto com as sementes, que somados representam ao chamado algodão em caroço ou em rama, ficam no campo os restos culturais que pelas recomendações técnicas de manejo devem ser destruídos e incorporados ao solo ou queimados, visando a redução da incidência de pragas e doenças para as próximas safras (ICAC RECORDER, 1991, FREIRE, 1998 e ALMEIDA e SILVA, 1999).
Atualmente com o aumento do consumo de quase todos os produtos manufaturados devido ao incremento contínuo da população humana, já ultrapassando de seis bilhões, a melhoria da renda global e especialmente a tomada da conscientização ecológica envolvendo a preservação do ambiente e recursos naturais, como as florestas nativas, abrem-se perspectivas para a utilização de subprodutos das grandes culturas a nível internacional, como é o caso do algodão, que na safra mais recente ocupou mais de 33 milhões de hectares em todo mundo (COTTON, 1999), e em média produz 2,5 t/ha de fitomassa (MEDINA, 1965, BELTRÃO et al., 1990 e ICAC RECORDER, 1991), que pode ser usada para a produção de celulose, com rendimento médio elevado, em torno de 34% e de boa qualidade, com 85,7% de – celulose (CHARITOS, 1994) ou para ser fracionado em vários subprodutos de importância para a sociedade moderna.
Neste trabalho, objetivou-se reunir informações sobre os subprodutos que podem ser extraídos dos restos culturais do algodoeiro, considerando os processos de sacarificação e fermentação dos hidrolizados provenientes de fitomassa do algodoeiro (caules e raízes).
Um dos produtos que podem ganhar importância grande de ser extraído da fitomassa do algodoeiro é o álcool etílico ou etanol que tem inúmeras aplicações industriais e, em especial, como combustível como ocorre aqui no Brasil, produto derivado da cana-de-açúcar.
Na Austrália, vários pesquisadores têm desenvolvido tecnologias para a obtenção de etanol dos restos culturais do algodoeiro herbáceo, que é na atualidade um produto abundante, cultivado na mais recente safra (1998/ 99), mais de 550.000 ha a maioria irrigado (COTTON, 1999).
Nos estudos na Austrália, os pesquisadores tem evidenciado que 1,0 t de fitomassa de algodão pode chegar a produzir até 300 l de etanol e 180 kg de lignina, que é matériaprima para a obtenção de diversas substâncias químicas de importância econômica (ICAC Recorder, 1993).
Segundo Charitos (1994) o caule e raízes do algodoeiro possuem a composição média apresentada na Tabela 1, denotando-se os elevados teores de celulose e de lignina, além de furfural.
Através de processos cromatográficos, Charitos (1994) identificou os glicídeos neutros que fazem parte dos caules e raízes do algodoeiro conforme pode ser observado na Tabela 2.
Este mesmo pesquisador, utilizando um hidrolizador vertical e o processo de sacarificação, com cinco percolações sucessivas, alcançou a cifra elevadíssima de 42,82% de açúcares redutores no hidrolizado de caules do algodoeiro.
Usando 1.450 kg de pedaços de caules de algodoeiro no hidrolizador vertical de capacidade para 8,3 m3 , Charitos (1994), obteve 17% de substâncias não sacarificáveis, 455 kg de açúcares totais e 625 kg de lignina residual, fornecendo no ciclo completo de hidrólise 12 kg de furfural, 3 kg de ácido acético e 70 kg de ácido carbônico, todos de larga aplicação industrial.
Na Tabela 3 pode ser visto o resultado geral do trabalho de Charitos (1994), corrigindo-se para a base de 1,0 t de fitomassa.
Verifica-se que pode-se produzir também metanol puro (99%), mínimo de 110 l/t de fitomassa. É preciso que seja dito que 1,0 t de caule de cana-de-açúcar produz no máximo 60 l de etanol, e esta poaceae fica no campo por no mínimo 1,5 ano até atingir o ponto de corte.
Considerando que se produz, em média 2,5 t/ha de fitomassa e que a estimativa para a safra 2000 é do plantio de 33,206 milhões de hectares (COTTON, 1999), teria no global 83,015 milhões de toneladas de fitomassa, o suficiente por exemplo, para produzir por ano, 24,904 bilhões de litros de álcool para combustível e outras aplicações.
Conclusão
Os restos culturais do algodoeiro, caules e raízes, ricos em vários produtos, no futuro, talvez próximo, poderão ser utilizados como fonte (matéria-prima) para produção de vários produtos de importância para a humanidade, tais como celulose, etanol, metanol, ácido acético, furfural entre outros.
Fonte: Embrapa
* Obs.: Para comparar as tabelas clique no link abaixo
https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPA-2009-09/22586/1/COMTEC116.pdf