Utilização de resíduos na alimentação do rebanho pode representar economia sem perda nutricional
A pecuária brasileira é destaque internacional, sendo o Brasil o maior exportador de carne bovina do mundo. Porém, para manter os níveis de qualidade e a produção em dia, é preciso manter os animais saudáveis e bem alimentados.
A maior parte do gado brasileiro é criado a pasto. No entanto, todos os anos muitas regiões sofrem com a falta de chuva, o que compromete a pastagem e, consequentemente, a disponibilidade de alimento para o gado.
Por isso, entre as alternativas encontradas pelos produtores para alimentar o rebanho encontramos subprodutos ou resíduos de alguns setores da agricultura. São produtos que não sofrem com a sazonalidade e podem estar disponíveis para os pecuaristas ao longo do ano, inclusive para armazenamento na propriedade.
Esses subprodutos são resíduos agroindustriais, consistindo na sobra do processamento de indústrias de alimentos, têxtil e até de combustíveis.
Utilização de resíduos da agricultura na alimentação do gado
Alguns resíduos agropecuários podem ser utilizados na alimentação de ruminantes como o gado bovino, tanto leiteiro quanto de corte.
São resíduos como palhas, bagaço de cana-de-açúcar, casca de arroz, casca de soja e polpa cítrica, dentre outros tantos subprodutos que podem ser aproveitados. Além das vantagens já citadas, o uso deste tipo de resíduo também diminui problemas ambientais e os custos do pecuarista.
A dieta de bovinos, principalmente em sistema de confinamento, inclui os alimentos chamados volumosos e concentrados. Os volumosos são aqueles que contém teor de fibra bruta acima de 18% na matéria seca, como capins verdes, feno, silagem e palhadas.
Já os concentrados possuem menos de 18% de fibra bruta na matéria seca, podendo ser classificados como proteicos e energéticos.
Os proteicos possuem mais de 20% de proteína na matéria seca, como torta de algodão e farelo de soja. Os energéticos contêm menos de 20% de proteína na matéria seca e mais energia, como o milho, triguilho, farelo de arroz, dentre outros.
Vejamos alguns exemplos de resíduos que podem ser utilizados na alimentação do gado:
Bagaço de cana: alimento volumoso, é um dos principais resíduos da agroindústria resultante da moagem da cana-de-açúcar. Tendo em vista que o Brasil é o maior produtor mundial de cana, esse resíduo tem diversas utilidades, inclusive a alimentação dos bovinos, auxiliando no ganho de peso e na produção de leite. Porém, para otimizar o valor nutritivo desse produto, ele deve passar por alguns processamentos químico ou físico.
Polpa cítrica: a polpa cítrica é um resíduo oriundo da produção de suco concentrado de laranja, e, em menor escala, de limão. Como maior produtor de suco de laranja do mundo, o Brasil concentra muitos resíduos dessa indústria.
Entretanto, tudo que não vira suco é aproveitado para a polpa cítrica, desde a casca, bagaço e também sementes. O bagaço da laranja concentra cerca de 80% de umidade e, portanto, precisa passar pela secagem para resultar em apenas 10% de umidade e então ser peletizado.
A polpa cítrica peletizada se apresenta como intermediária entre concentrado e volumoso, sendo uma fonte energética e com alta digestibilidade. Esse alimento possui cerca de 87% da energia do milho, podendo, na suab ausência, servir como um complemento na dieta dos animais.
Resíduos de soja: casca e fragmentos da soja podem ser utilizados na alimentação do gado. A casca de soja é a película que envolve os grãos, resultante do processamento da soja. Seu desempenho é parecido com o do milho, sendo um alimento energético. Já o farelo de soja, obtido após a extração do óleo do grão para consumo humano, pode conter até 48% de proteína e tem boa palatabilidade.
Caroço de algodão: resultante do beneficiamento do algodão para extração da fibra de algodão, esse alimento possui alto teor energético e, ao mesmo tempo, é rico em fibras, reunindo características tanto de alimento concentrado quanto de volumoso.
A utilização de resíduos ou subprodutos na alimentação de bovinos pode trazer bons resultados, tanto no desempenho do rebanho quanto para o bolso do pecuarista, já que muitos desses produtos têm um custo reduzido se comparado a alguns alimentos tradicionais. E isso sem contar a contribuição com o meio ambiente, evitando que determinados resíduos sejam descartados na natureza.
Por Mayk Alves é fundador do Portal Vida no Campo e Agro20.
Neto de lavradores, sempre esteve envolvido com as atividades do campo e tem por missão disponibilizar informações sobre o mundo do agronegócio de maneira objetiva e dinâmica.