As agroindústrias, no dia a dia do seu funcionamento, disponibilizam uma quantidade elevada de subprodutos que podem ser utilizados na alimentação dos ruminantes.
Estes subprodutos que têm origem variada precisam ser identificados para serem utilizados com segurança na alimentação animal.
Muito embora de importância econômica, o emprego racional dos subprodutos depende de uma série de fatores, tais como a proximidade entre os locais de sua produção a de utilização pelos rebanhos; as suas características nutricionais e o custo para transportar e preparar os alimentos.
O uso de subprodutos da agroindústria no arraçoamento animal poderá liberar alimentos como a soja e o milho para a alimentação humana. Além disso, constituirá uma fonte adicional de alimentos e melhorara a qualidade ambiental, pela redução de resíduos.
Vários estudos têm identificado o potencial nutricional dos subprodutos da agroindústria para ruminantes, sejam eles provenientes de culturas diversas (cascas de arroz, cacau, café, sabugo de milho, bagaço de cana de açúcar), do extrativismo (palha de carnaúba) ou oriundos do processamento de frutas.
Este trabalho tem o objetivo de determinar a composição química de alguns produtos da agroindústria da polpa de frutos e de doces, e de restos da cultura da mandioca na região da grande Teresina.
Resíduos de abóbora, de goiaba, de acerola, de massa de abacaxi, película da amêndoa de caju, casca de abacaxi, colmo, folhas e raiz (tubérculo) de mandioca foram colhidos nas agroindústrias e na zona rural da grande Teresina, envolvendo, portanto, localidades do Piauí e do Maranhão.
De cada material a ser analisado, 20 amostras de 500 gramas foram coletadas e misturadas em baldes, de onde retiraram-se quatro amostras de 200 gramas para as análises, que foram processadas no laborat6rio de nutrição animal da Embrapa Meio-Norte.
As análises realizadas foram: proteína bruta (PB), fibra bruta (FB), fibra em detergente neutro (FDNL fibra em detergente ácido (FDA), extrato etéreo (EE), matéria mineral (MM), f6sforo (P) e cálcio (Ca). Os dados foram submetidos a análise de variância e as medias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
A constituição dos resíduos
Os resultados das análises estão apresentados na Tabela 1. 0 conteúdo de proteína bruta variou de 2,76%, na raiz de mandioca, a 20,53%, no resíduo de abóbora. Concentrações intermediarias, mas dentro dos limites para suprir as necessidades de gado de corte em pastagens (12% PB), foram observadas na película de amêndoa de caju (15,54%), resíduo de goiaba (14,49%) e resíduo de acerola (13,76%).
A película de amêndoa de caju, como resultado do seu maior teor de óleo, apresentou uma concentração mais alta de extrato etéreo (19,43%) seguida do resíduo de goiaba (11,56 %) e resíduo de abóbora (10,98%). Esses três produtos podem ser utilizados para aumentar a densidade energética das rações.
Por outro lado, teores mais altos de fibra bruta foram constatados no resíduo de goiaba (39,23%) e no colma e folhas da mandioca (38,22%), em níveis que os enquadram como alimentos volumosos. Do mesmo modo, o resíduo de massa de abacaxi (28,75%) e o resíduo de acerola (28,37%) podem ser classificados como volumosos, já que aos níveis de fibra bruta foram mais altos do que 18% e, os de proteína bruta, menores que 18%.
A FDN e constituída por hemicelulose, celulose e lignina, enquanto a FDA e formada por celulose e lignina, sendo a hemicelulose a fração de maior digestibilidade e, a lignina, a de menor. Portanto a melhor utilização dos alimentos pelos ruminantes vai depender da concentração da lignina. Neste sentido, o colmo, a folha de mandioca (16,24% a) e resíduo de acerola (14,46% a) apresentaram as mais altas concentrações de lignina, indicando que a digestibilidade da ração pode ser reduzida se esses alimentos forem usados em concentrações elevadas.
A concentração da mistura mineral foi mais alta no resíduo de abóbora (9,72%), porém o conteúdo do cálcio foi baixo em todos os resíduos, variando de 0,040% no resíduo de goiaba a 0,16% no colma e folha de mandioca, indicando que os resíduos estudados não atendem a necessidade mínima de cálcio (0,18%) para a nutrição de bovinos de corte em pastagem. Por outro lado, na maioria dos produtos analisados, a concentração de f6sforo satisfaz, ou permanece no limite de atender as necessidades de gado de corte em pastagem (0,18%).
Conclusão
Do ponto de vista da composição química, os resíduos avaliados podem ser utilizados como ingredientes para a formulação de rações animais, especial mente de ruminantes. 0 seu valor dependera não somente das suas características originais, como aqui apresentadas, mas também das condições de armazenamento e conservação. Além disso, são necessários estudos com a participação de animais, para testa rem a viabilidade biológica dos resíduos.
Fonte: Embrapa
https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/52585/1/CIR350001.pdf