Confira artigo de João Paulo Rodrigues da Cunha, professor titular da Universidade Federal de Uberlândia:
Os cultivos agrícolas estão sujeitos à ação de pragas, doenças e plantas daninhas que podem reduzir a produtividade e a qualidade dos materiais colhidos. Neste contexto, o uso dos defensivos agrícolas representa uma importante estratégia dentro do manejo integrado.
A proteção das lavouras é inerente à própria agricultura. É necessário produzir alimentos e produtos de uso comercial e industrial, em quantidade e qualidade e a um preço justo. Nada disso, no entanto, seria possível na sua totalidade sem a aplicação de defensivos, principalmente frente ao aumento das demandas.
Contudo, esse processo vem sendo questionado por alguns setores da sociedade, o que faz necessário justificar seu uso de diversos pontos de vista. Grande parte das objeções tem sua origem em problemas ou acidentes ocorridos no campo, frutos do uso incorreto dos defensivos. Desta forma, o domínio da tecnologia de aplicação é fundamental, de forma a garantir que os produtos aplicados cheguem ao alvo desejado, sem contaminar o ambiente e as pessoas envolvidas.
A tecnologia de aplicação é uma ciência que evoluiu muito nos últimos anos, de forma a auxiliar os agricultores no sucesso de seus cultivos. Redução de volumes de calda, seleção de adjuvantes, misturas em tanque e maiores áreas por máquina são desafios que podem ser transpostos com o domínio e implementação das boas práticas agrícolas.
Neste cenário, temos ainda a previsão do crescimento do uso de alguns produtos que, caso sejam incorretamente empregados, ou seja, sem a implementação das boas práticas de aplicação, poderão causar prejuízos a agricultores, sejam eles usuários ou não. O emprego do herbicida dicamba é um exemplo. O desenvolvimento de cultivares de soja tolerantes a este herbicida é uma importante estratégia desenvolvida visando novas alternativas no controle de plantas daninhas resistentes aos herbicidas, com consequente aumento de produtividade das lavouras.
Essa nova tecnologia, apoiada na biotecnologia, assim que disponibilizada ao agricultor brasileiro representará mais uma ferramenta na batalha pela proteção da produtividade. No entanto, traz consigo, de forma imperiosa, a necessidade do domínio da tecnologia de aplicação. Não que a mesma não o fosse para os demais produtos, mas porque o uso incorreto poderá ser visto na injúria em algumas plantas sensíveis, como a própria soja não tolerante ao herbicida.
De posse de sais e formulações de dicamba que apresentem baixo risco de volatilização, os agricultores deverão selecionar pontas de pulverização adequadas, além de adjuvantes redutores de deriva, que gerem a menor quantidade possível de gotas finas, empregar volumes de calda que permitam boa cobertura do alvo, mesmo trabalhando com gotas extremamente grossas, e se atentarem às condições meteorológicas durante as aplicações. Elevada temperatura, baixa umidade relativa do ar e ventos fortes são inimigos de uma pulverização segura de qualquer defensivo agrícola.
Outro ponto muitas vezes relegado a segundo plano no cotidiano diário das fazendas refere-se à limpeza dos tanques e componentes do circuito hidráulico dos pulverizadores. Resíduos de herbicidas impregnados nos tanques podem causar injúrias em plantas sensíveis em aplicações subsequentes, a ponto de interferir na produtividade. Portanto, criar a rotina da limpeza é e será cada vez mais fundamental. No caso do dicamba, a pesquisa já comprovou que 3 enxágues do tanque com água são suficientes para promover sua limpeza, embora aditivos estejam sendo testados inclusive para tornar esse procedimento mais rápido e seguro.
Sem dúvida, o futuro nos trará novos desafios na proteção dos cultivos, mas a tecnologia de aplicação estará presente para auxiliar o agricultor a atingir seus objetivos, de forma sustentável. Capacitar operadores e regular, calibrar e avaliar pulverizadores farão parte, cada dia mais, da rotina das fazendas.
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