Você sabe o que são coprodutos, quais são os principais usados nas dietas de gado de corte no Brasil e o pontos de atenção para o seu uso? Foi o que destacou edição do “Giro do Boi”, do Canal Rural, que contou com entrevista da zootecnista Simone Garcia, mestre em qualidade e produtividade animal com especialização em produção de ruminantes pela Esalq e consultora de serviços técnicos de bovinos de corte na Agroceres.
“Coprodutos, ou subprodutos, como a gente também chama em algumas regiões, são resíduos da indústria. São matérias primas que são processadas nas indústrias seja de tecido, como o algodão, alimentícia, de combustível, e o que sobra deste processamento é utilizado na pecuária. O boi é tão bom que ele permite que a gente utilize determinados produtos que não teriam utilidade na nutrição dele”, classificou a zootecnista.
Simone ponderou, no entanto, que seu uso tem limitações e que os pecuaristas devem levantar várias questões paralelas antes de buscar redução do custo da dieta do animal inserindo os coprodutos na comida. No Brasil, os mais utilizados são caroço de algodão, polpa cítrica, casca de soja, torta de algodão, DDG e WDG. O levantamento dos principais coprodutos usados no Brasil foi revelado em primeira mão no Webinário Giro do Boi – Confinamento Brasileiro (baixe a palestra de Danilo Millen pelo link abaixo).
Segundo Simone, os coprodutos podem ser usados na dieta como volumosos ou concentrados, dependendo de sua composição. “Os volumosos têm mais de 18% de fibra e 60% de NDT, que é energia. O concentrado vai ter menos fibra e, dentro dos concentrados, a gente ainda pode dividir eles entre proteicos e energéticos. Os proteicos têm mais de 20% de proteína, os energéticos têm menos. Então esta divisão também ocorre pros subprodutos e aí basta a gente entender um pouquinho deles para alocar eles da melhor forma na dieta”, aconselhou.
“O que ele precisa ter primeiro é a análise deste subproduto, lembrando que como ele é um resíduo, eles apresentam muitas variações entre as cargas que chegam na fazenda. É muito importante a gente avaliar tudo que é colocado dentro da fazenda em relação subprodutos, mandar para algum laboratório e testar análise bromatológica. As próprias empresas que comercializam estes resíduos, estes coprodutos, geralmente já mandam um laudo do que tem naquele produto isso é muito importante para o produtor e para o técnico. Além disso para o produtor é interessante ele ter o custo destes subprodutos, então com as informações da análise bromatológica e do custo deste subproduto, é ideal que ele passe isso para os seus técnicos que acompanham a sua nutrição e esse técnico possa avaliar a melhor forma de incluir este produto na dieta que ele faz. Hoje a gente tem diferentes tipos de dietas, dietas mais volumosas, dietas mais concentradas, e tudo isto influencia a alocação deste produto e o resultado final no desempenho animal”, esmiuçou a especialista.
Simone alertou para o uso de resíduos da soja, um alimento essencialmente proteico, porque eles podem conter grãos de soja quebrados ou até soja inteira e pedaços da própria vagem. “Um ponto de atenção que a gente deve ter com estes resíduos é que geralmente a gente vai ter soja quebrada nestes resíduos e esta soja, quando a gente produz algum suplemento ou uma ração com ela quebrada e coloca ureia nesta formulação, nesta batida de dieta ou suplemento, ao armazenar este produto final a gente pode ter uma reação entre a soja e a ureia e isto aí libera amônia no cocho e pode prejudicar consumo do animal. A gente chama de atividade ureática. Então é um ponto importante que a gente deve estar tendo quando a gente vai trabalhar com este tipo de resíduo” advertiu.
Simone fez considerações ainda sobre o caroço de algodão e a torta de algodão. “Ambos são alimentos proteicos. Mais a torta, porque ela tem uma boa quantidade de proteína. Eles carregam com eles também o óleo, o extrato etéreo, que ajuda muito a aumentar a densidade de energia da dieta. Nós temos utilizado muito estes coprodutos para melhorar a terminação destes animais. Além disso, são alimentos que a gente fala que é completo, tem proteína, energia e ele ainda ajuda a gente na questão de fibra efetiva, é o que a gente precisa para o animal. Isso não quer dizer que a gente pode substituir silagem ou forragem por estes coprodutos, significa que eles ajudam a gente a ter uma certa segurança em relação a fibra efetiva. E aí a gente tem que tomar cuidado com inclusão destes produtos na formulação justamente pela questão do óleo. O excesso de extrato etéreo na dieta prejudica o ambiente ruminal e aí faz com que a fibra, por exemplo, não seja digerida da forma correta. A gente costuma trabalhar com extrato etéreo na dieta no limite de 6% da dieta total e matéria seca, então este é um ponto importante”, frisou.
A zootecnista falou também sobre a aplicação de DDG e WDG nas dietas mais intensivas. “São alimentos relativamente novos no Brasil, são resíduos da indústria de etanol do milho. […] O DDG é seco e o WDG é o coproduto úmido. Dependendo da inclusão da quantidade da inclusão dele na dieta, ele pode ser uma boa fonte de proteína, ele tem muita proteína não degradada no rúmen, entrando como uma fonte de proteína verdadeira também, e ele também tem apresentado um alto valor alimentar na dieta. Ele tem aumentado a energia da dieta substituindo muito bem o milho em algumas situações. O ponto de atenção que a gente tem que ter é que o ideal é estar perto da indústria do produto, principalmente na questão do coproduto úmido, que é o WDG. Ou qualquer outros coprodutos, como cevada, é interessante a gente estar próxima da indústria porque a gente tem que lembrar que quando você carrega um alimento úmido, você vai estar carregando água. O frete de água […] é caro. Além disso, estes alimentos muito úmidos tendem a estragar a perder as qualidade nutricionais mais rápido. Então é ideal que você receba a carga com tanques. Se você está longe desta indústria, isso vai ficar inviável, então é um ponto de atenção. Por isso que a gente vai ter muito uso de DDG no Brasil hoje em Goiás, Mato Grosso, um pedacinho de Minas Gerais ali que divide com Goiás tem entrado bem, região de Ituiutaba tem aparecido bastante esse tipo de insumo. Então tem que estar atento aí, mas são ótimos produtos, que tendem a aumentar a participação deles nas dietas no Brasil”, projetou.
Simone comentou ainda alguns produtos usados nas dietas de bovinos no estado de São Paulo. “Aqui no estado de São Paulo, Minas Gerais também, a gente tem usado muito bagaço de cana como fonte de volumoso. Lembrando que não é um alimento nutritivo, a função dele é fazer o animal ruminar, é mastigar e garantir o mínimo de fibra para o funcionamento do rúmen”, indicou.
“Agora as demais fontes de volumoso, como silagem de cana, silagem de milho, silagem de capim, que têm aparecido muito no Mato Grosso e algumas regiões de Minas Gerais, estes produtos a gente não chama de coproduto ou subproduto. É uma forma de conservar a forragem, é diferente da cana. A cana sim, pode ser um resíduo da indústria de etanol. Os demais são fontes de volumosos que podem ser extremamente nutritivos, dependendo da região, da aptidão da fazenda, da roça, do processo de ensilar este produto e de um manejo que o pecuarista vai ter na fazenda, o cuidado que ele vai ter com o painel do silo, com a limpeza que ele vai ter, se ele fecha ou não o silo, tipo de lona que ele usa. São fontes de volumosos que não podem ser considerados coprodutos, mas são de extrema importância quando a gente fala de confinamento”, apontou.
Simone revelou ainda que os coprodutos não estão restritos ao uso no cocho. “São utilizados para a TIP, a terminação intensiva a pasto, para o semiconfinamento e para o confinamento. Além disso, a gente utiliza muito coproduto na suplementação animal.[…] Torta de algodão, em algumas regiões, tem entrado muito em proteicos-energéticos, a casquinha de soja, quando está disponível, a polpa cítrica em proteico-energético. Em proteinados, nós temos farelo de algodão, torta de algodão entrando muito bem nas dietas. […] Vira e mexe aparece algo diferente para gente incluir na suplementação a pasto também”, comentou.
No entanto, Simone disse que é preciso cautela ao adicionar novos produtos nas dietas dos animais, mesmo que isto signifique redução de custo. “Um ponto importante é: vamos ter cuidado porque as nossas dietas, em algumas regiões, já trabalham com muitos coprodutos, como é o caso aqui do estado de São Paulo. Qualquer novo coproduto que apareça, que seja disponível para a gente, é interessante ele ser muito bem estudado pelo técnico que atende o pecuarista. Deixe o técnico trabalhar, fazer o trabalho dele, indicar como usar da melhor forma”, aconselhou.
A zootecnista pediu ainda foco na operação de inclusão destes coprodutos na dieta, o que pode fazer diferença no resultado do pecuarista. “Um ponto que ninguém considera, por exemplo, é a questão operacional da fazenda. Não adianta, às vezes, você ter sete tipos de alimentos para entrar numa dieta se na hora de misturar você não tem funcionário. Então são vários pontos de atenção que a gente deve ter na hora de escolher o que a gente vai usar para baratear nossos custos”, concluiu.
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