Reaproveitar ou dar um destino sustentável aos resíduos é necessário e pode ser rentável para o produtor e as indústrias
Por muitos anos o agronegócio foi visto como um vilão devido aos resíduos que gera. De fato, é um dos setores que mais gera resíduos, sendo a agricultura e a pecuária responsáveis por mais de 50 % dos resíduos, atualmente. Os materiais incluem desde dejetos e ossadas até embalagens de agroquímicos, fertilizantes e matéria orgânica.
Porém, este cenário vem mudando e, hoje, o que muitos chamam de lixo pode ser um subproduto que ganha destinação ambiental e economicamente favorável. As sobras de culturas ou resíduos de origem animal podem ser – direta ou indiretamente – aproveitadas na própria lavoura ou para as indústrias.
Muitos restos culturais, inclusive, servem de alimento para animais, podendo ser fornecidos puros ou como matéria-prima para a fabricação de rações. No cultivo do arroz, por exemplo, praticamente a totalidade da casca do arroz é aproveitada para novos produtos que englobam desde cosméticos até polímeros plásticos.
Como outros exemplos, podemos destacar:
● bagaço da cana
É a fibra que sobra depois da extração do caldo para a produção de açúcar e etanol, por exemplo. Essa biomassa é utilizada nas usinas para a produção de energia. Avinhaça resultante pode ser reutilizada como adubo para o solo, no lugar de fertilizantes minerais como o cloreto de potássio. O bagaço ainda é tratado para servir de alimento para o gado bovino.
● resíduos da pecuária bovina
Do boi se aproveita quase tudo. Além da carne, se aproveitam também o couro, utilizado na produção de artigos como sapatos, cintos, bolsas e até gelatina, que é utilizada pela indústria farmacêutica, alimentícia e fotográfica.
Já os cascos e chifres podem originar pérolas artificiais e, se moídos, entram na formulação do pó de extintores. Outro resíduo bovino aproveitado é o sebo, utilizado pela indústria química e na indústria de pneus e cosméticos.
● resíduos da avicultura
Na indústria avícola o aproveitamento de resíduos também é possível. As penas cozidas de frango, por exemplo, podem se tornar farinha para peixes e pássaros, enquanto os ossos e pedaços de carne que sobram podem ser transformados em ração animal.
Logística reversa
A logística reversa ocorre quando um produto volta para o fabricante. É um processo que busca identificar e distinguir o que é resíduo (e pode ser reaproveitado ou reciclado) do que é rejeito (e deve ser descartado).
Assim, o objetivo da chamada logística reversa é reciclar ao máximo os resíduos e dar uma destinação ambientalmente correta à eles.
Estão sujeitos a este procedimento os agroquímicos e suas embalagens, por exemplo, além de outros produtos cujas embalagens contenham resíduos perigosos ou que possam contaminar o meio ambiente, como óleos lubrificantes ou pesticidas.
Relativamente recente na agricultura, a logística reversa de embalagens vazias de defensivos surgiu no ano 2000, regulamentada pela Lei federal nº 9.974.
Em 2010, veio a Lei federal nº 12.305, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), contemplando diversos segmentos da indústria. Dessa forma, devem ser devolvidos e destinados de maneira específica materiais como:
● embalagens de agroquímicos;
● pilhas e baterias (pois contém elementos como chumbo e mercúrio, com compostos que podem contaminar o solo);
● óleos lubrificantes queimados;
● pneus (visando evitar a queima, que pode intoxicar pessoas e animais).
Assim, fica claro que com o elevado número de resíduos gerados pela indústria, pensar na forma mais eficiente de dar um destino ambientalmente correto ou de reaproveitar esses materiais é sempre uma boa pedida.
Por Mayk Alves é fundador do Portal Vida no Campo e Agro20.
Neto de lavradores, sempre esteve envolvido com as atividades do campo e tem por missão disponibilizar informações sobre o mundo do agronegócio de maneira objetiva e dinâmica.