De maneira geral, grãos de cereais, representam a principal fonte de energia em rações de bovinos de corte terminados em confinamento. Nos últimos anos tem aumentado o interesse e a viabilidade da inclusão de doses cada vez maiores de grãos nas rações de bovinos confinados em terminação no Brasil em virtude do crescimento expressivo da safra nacional, do custo elevado da energia contida em forragens conservadas e por questões de operacionalidade nos confinamentos de grande porte.
Para rações formuladas em confinamentos, no Brasil, a inclusão média de volumoso é de 28,8% na matéria seca (MS) da dieta total (Oliveira e Millen, 2011). Inclusões altas de volumosos em dietas de terminação economicamente não são competitivas quando comparadas com grãos e co-produtos, além de reduzirem a energia líquida de ganho, aumentar o custo por unidade de energia metabolizável (EM) e dificultar o manejo e gerenciamento em confinamentos comerciais.
Rações com teores mais altos de grãos propiciam ganho de peso mais rápido, melhor conversão alimentar, carcaças com melhor acabamento e rendimento e menores custos operacionais no confinamento, o que pode tornar a atividade mais rentável.
O uso de grãos de milho inteiro pode ser interessante em determinadas situações, pois permite trabalhar com níveis mínimos de forragem ou sem foragem alguma na dieta total (Gorocica-Buenfil e Loerch, 2005).
Dietas com milho grão inteiro e sem volumoso são utilizadas na prática desde a década de 70 nos EUA e mais recentemente no Brasil. A adoção de dietas contendo milho grão inteiro sem volumoso tem crescido principalmente no sudeste e centro-oeste do país.
De acordo com a revisão de Owens et al. (1997), animais alimentados com rações contendo grãos de milho inteiro sem forragem ou com mínimo de forragem, podem apresentar melhor desempenho quando comparados com animais alimentados com dietas contendo milho quebrado, laminado a seco ou moído grosso.
Utley e Mcormick (1975) observaram que os animais alimentados com grãos de milho inteiro sem forragem, apresentaram menor ingestão de matéria seca (IMS) e menor ganho de peso diário (GPD), mas melhor eficiência alimentar (GPD/IMS) que os animais alimentados com grãos de milho quebrado com forragem na dieta.
Turgeon et al. (2010) avaliaram a inclusão de pequenas doses de milho grão inteiro em dietas de terminação para novilhos em confinamentos comercias em substituição ao volumoso. Os autores observaram que essa prática diminuiu a IMS, o GDP, porém melhorou a eficiência alimentar, quando comparado com dietas que apresentavam forragem em sua formulação.
Segundo Traxler et al. (1995), animais alimentados com grãos de milho inteiro sem forragem, apresentaram menor IMS, GPD similar e melhor eficiência alimentar (GPD/IMS) que os animais alimentados com grãos de milho quebrado com forragem na dieta, como pode se observado na Tabela 1.
No trabalho de Gorocica-Buenfil e Loerch (2005) comparou-se o milho inteiro e o milho quebrado com dois níveis de silagem de milho (5 x 18% da MS). A inclusão de 18% de silagem de milho na dieta de milho inteiro reduziu significativamente o CMS dos animais, reduziu numericamente o GPD e a eficiência alimentar. Não houve vantagem em quebrar o milho em comparação com seu fornecimento inteiro.
Nos trabalhos acima citados, todos conduzidos nos Estados Unidos e com animais taurinos, não houve vantagem em incluir forragem nas dietas com milho inteiro.
O milho utilizado no Brasil é do tipo flint com endosperma vítreo e com amido de menor digestibilidade, diferentemente do milho dentado que é usado nos EUA e que apresenta endosperma farináceo e maior digestibilidade.
Assim, a baixa digestibilidade do amido contido em cultivares de milho duro pode limitar a eficiência de uso de dietas com milho inteiro.
O principal fator que limita a digestão do amido com grãos inteiros de milho é o tamanho de partícula e presença de matriz proteica intacta revestindo os grânulos de amido.
Marques (2011) conduziu na ESALQ/USP, um trabalho com tourinhos da raça Nelore e com milho do tipo flint ou duro, em que foram estudados 3 níveis de bagaço de cana (0, 3 e 6% de MS) em dietas com grão de milho inteiro.
No presente estudo a inclusão de apenas 3% de bagaço na dieta com milho inteiro foi suficiente para otimizar a IMS, o GPD, o PF e o PCQ dos animais. A melhora no desempenho foi consequência da maior ingestão de energia pelos animais, determinada pela maior IMS.
De modo geral, tanto nos trabalhos americanos quanto no trabalho brasileiro, a inclusão de volumoso em dietas com milho inteiro estimula o CMS.
Entretanto, no trabalho brasileiro houve efeito positivo de pequena inclusão de volumoso no GPD dos animais.
No mesmo estudo de Marques (2011) os tratamentos com milho inteiro foram comparados com o milho floculado com 6% de bagaço na dieta. A floculação do milho reduziu o CMS dos animais em relação ao milho inteiro com bagaço e foi igual ao milho inteiro sem volumoso. Entretanto, a eficiência alimentar dos animais foi expressivamente superior com milho floculado (Tabela 3).
Em conclusão, o uso de dietas contendo milho grão inteiro é uma opção para pecuaristas que utilizam confinamentos estratégicos na fazenda, que não possuem estrutura para produzir volumosos ou processar os grãos, que possuem pequenas operações que não justificam maiores investimentos em infra-estrutura, etc. Apesar da utilização de grão de inteiro ser uma opção viável nestes casos, a eficiência de uso do amido contido nesses grãos é bastante limitada em comparação com milho processado intensamente seja na forma de silagem de grão úmido ou floculado.
Bibliografia
GOROCICA-BUENFIL, M.A; LOERCH, S.C. Effect of cattle age, forage level, and corn processing on diet digestibility and feedlot performance. Journal of Animal Science, Albany, v. 83, p. 705-714, 2005.
MARQUES, R. S. Efeitos da variação dos níveis de forragem em dietas contendo grãos de milho inteiro e os beneficios da floculação na terminação de tourinhos Nelore. 2011. 72 p. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal pastagens) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2011.
OLIVEIRA, C.A, MILLEN, D.D. Levantamento sobre as recomendações nutricionais e práticas de manejo adotadas por nutricionista de bovinos confinados do Brasil: manejo alimentar e dificuldades encontradas. 2011. 4p Projeto de Iniciação Científica – Campus Experimental Dracena, Universidade Estadual Paulista ”Júlio de Mesquita Filho”, São Paulo, Dracena, 2011.
OWENS, F.N.; SECRIST, D.S.; HILL, W.J.; GILL, D.R. The effect of grain source and grain processing on performance of feedlot cattle: a review. Journal of Animal Science, Albany, v. 75, p. 868-879, 1997.
TRAXLER, M.J.; FOX, D.G.; PERRY, T.C.; DICKERSON, R.L.; WILLIAMS, D.L. Influence of roughage and grain processing in high-concentrate diets on the performance of long-fed Holstein steers. Journal Animal Science, Albany, v. 73, p. 1888–1900, 1995.
TURGEON, O. A., J.I. Szasz, W. C. Koers, M.S. Davis and K.J. Vander Pol. Manipulating grain processing method and roughage level to imprive feed efficiency in feedlot cattle. Journal of Animal Science. J ANIM SCI 2010, 88:284-295.
UTLEY, P.R.; McCORMICK, W.C. Comparison of cattle finishing diets containing various physical forms of corn. Journal of Animal Science, Albany, v. 40, p. 952-956, 1975.
Por Murillo Meschiatti
Colaborador: Rodrigo da Silva Marques
https://www.beefpoint.com.br/uso-de-milho-grao-inteiro-em-dietas-de-terminacao-de-confinamentos/